Olá, de RAY PINHEIRO - rpinheiro19@gmail.com
Por que Dilma não será (ou não deve ser) candidata à presidência !!! ( Pedro Dória )
R_MORTIMER
Vocês me pediram para explicar a afirmação. Não sei se devia, afinal é uma aposta. Colunas sempre fizeram apostas do tipo nos jornais. Talvez no tempo da Internet não nos sejam mais permitidas apostas assim. Mas há um raciocínio por trás da aposta.
Na entrevista coletiva que anunciou a doença, a doutora Yana Novis informou que se trata de “um linfoma B de grande célula”, segundo o Estadão. Cânceres Linfáticos existem de vários tipos. Células B são aquelas que produzem anticorpos para combater vírus e bactérias – linfomas que atacam as células B estão entre os mais comuns dentre os cânceres linfáticos. “Linfoma B de grande célula” é provavelmente o Linfoma B de Célula Grande Difuso – DLBCL. 40% dos linfomas entre adultos são deste tipo. Que ninguém se engane. É um câncer bastante agressivo. O prognóstico médio é o seguinte: 40% dos pacientes deste câncer se livram da doença. Não é uma média terrível, mas certamente não é boa.
O caso de Dilma é melhor.
Os médicos dizem que ela está no Estágio 1. Isso quer dizer que o câncer foi localizado em apenas uma localidade do corpo. Os médicos também disseram que o lugar foi um linfonodo e não um órgão. Também conta a favor da ministra. Isto quer dizer o seguinte, de acordo com um artigo publicado no British Journal of Haematology: suas chances de viver mais dois anos são de 86%. As chances de viver mais 10 anos são de 63%. Em média, pacientes diagnosticados com DLBCL em nódulos linfáticos no Estágio 1 vivem 180 meses. São 15 anos.
É o que a estatística colecionada por médicos ao longo dos anos diz. Do ponto de vista prático, quer dizer que Dilma não cumprirá sua promessa de “trabalhar normalmente”. Nem pode. Sua vida nos próximos meses será consumida pelo tratamento de quimioterapia. Químio cansa, derruba.
Nos meses seguintes ao tratamento, ela ainda terá que esperar. Vai ser uma espera angustiada, difícil e dolorosa.
Vai um mês ao hospital e vê se surgiu novo traço de tumor. Volta no mês seguinte. E no outro. Quem já conviveu com câncer próximo conhece o tormento. Engloba a vida toda.
Daqui a um ano e meio, dois, se nenhum outro traço de tumor for localizado, a ministra poderá respirar aliviada. Aquele se foi. Se outro surgirá, quem há de dizer?
Só que dois anos é muito tempo. Seu tratamento de químio inicial vai durar 4 meses. Termina em agosto. Quando dezembro chegar, nenhum médico terá condições de dizer se houve cura ou não. Só que, a essas alturas, as discussões a respeito de alianças políticas já estarão a pleno vapor para a eleição presidencial de 2010. O PT não pode se dar ao luxo de ter dúvidas a respeito de quem o representará.
O PT não vai lançar como candidata alguém que corre o risco de ficar dando entrada no hospital a cada dois meses durante seu mandato, em caso de ser eleita. Quando câncer exige combate continuado, coisa que neste caso só ficará claro no futuro, o tratamento ocupará a vida da ministra.
Ninguém pode ocupar o cargo Executivo máximo e tratar câncer ao mesmo tempo. São ambos serviços que ocupam atenção integral. Mas digamos que o PT decida não fazer o responsável que é deixar Dilma se cuidar e não jogar o futuro do país numa roleta.Então aí virá a eleição a discussão de alianças e a escolha do vice.
A praxe no Brasil é oferecer o cargo de vice-presidente para um partido que traga votos importantes em regiões específicas. A praxe brasileira é buscar vices apagados: Itamar Franco, Marco Maciel, José Alencar. Seu motivo de existência é apoio eleitoral em troca da garantia de cargos que o vice impõe. Com Dilma, o PT não poderia escolher seu vice em paz. Teria que ser um nome importante, conhecido, com quem todos fiquem tranquilos. Imprensa e população observariam com atenção dois candidatos e não apenas um. São duas pessoas frágeis a qualquer pequeno escândalo em suas vidas passadas. Duas pessoas contra quem fazer insinuações. Uma dupla exposição da candidatura que produz um processo eleitoral mais difícil. Um vice forte é também alguém com quem a futura presidente Dilma teria que dividir o poder muito mais do que a praxe.
Então viria a campanha.
Se, durante a eleição, Dilma tiver que ir a um hospital uma única vez, mesmo que nada tenha a ver com a doença, ninguém acreditará. Vai criar insegurança que pode afetar seriamente sua capacidade de se eleger.
Do ponto de vista pragmático, não faz sentido para o PT correr esse risco quando tem outros candidatos tão capazes quanto de disputar a eleição. Só há um argumento que justificaria lançar Dilma candidata perante a dúvida: ela sairia fortalecida após vencer uma doença. Tal vitória daria algum tipo de charme. O problema, aí, é o tempo que lhe falta. Câncer não se cura, câncer deixa sobreviventes. Se tivesse tido um câncer que nunca mais apareceu, dez anos atrás, Dilma seria uma vitoriosa. Enfrentou um dos mais difíceis dramas humanos e sobreviveu. Mas, em abril de 2010, nenhum médico poderá falar que a ministra está livre de qualquer risco porque ela não estará. Ela será ainda considerada uma paciente de linfoma em tratamento e observação.
A ministra Dilma Roussef acaba de entrar nesta viagem. Ela não sairá a tempo de pegar a eleição de 2010.
O Brasil já tem uma história de candidato que manobrou o quanto pode e fez de tudo para fingir que uma doença grave em nada afetaria o futuro. O resultado foi termos ganho cinco anos de José Sarney.
Não é questão de torcida: Dilma Roussef não sairá candidata. A partir do momento em que o linfoma foi anunciado, seu futuro foi posto em dúvida e os riscos de sua candidatura tornaram-se sérios demais.
Evidentemente, posso estar errado. O PT pode calcular mal seus riscos, por exemplo. Terá sido uma aposta irresponsável, que joga o futuro do país numa roleta e cria a possibilidade de haver alguém na presidência que não possa lhe dedicar a atenção necessária.
RAY PINHEIRO
Brasília-DF-BRASÍL
sábado, 13 de junho de 2009
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